Amigurumis feitos por apenados são destinados a crianças atendidas em abrigos e escolas de Cruzeiro do Oeste 01/08/2025 - 11:38
Nesta quinta-feira (31), a Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (PECO) foi palco da apresentação oficial do projeto “Respeito às Diferenças: Brincando Também se Aprende”, uma iniciativa pedagógica e social que une educação, representatividade e reintegração social no ambiente prisional, realizada através de uma parceria entre a Polícia Penal do Paraná (PPPR), o Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja) Professor João da Luz da Silva Corrêa e o Conselho da Comunidade de Cruzeiro do Oeste.
O projeto visa promover a valorização da cultura Afro-Brasileira e africana por meio da confecção de bonecas e bonecos negros (amigurumis), desenvolvidos por pessoas privadas de liberdade (PPL) que serão entregues para crianças atendidas em abrigos e escolas públicas do município de Cruzeiro do Oeste e também para filhos das PPL, promovendo representatividade desde a infância.
“Este tipo de ação mostra que é possível romper ciclos de exclusão. Quando unimos educação, cultura e afeto, criamos pontes reais para a ressocialização. Parabenizo a todos os envolvidos pela sensibilidade e comprometimento”, disse o coordenador regional da Polícia Penal do Paraná em Umuarama, Arnobe Lemes dos Reis, ressaltando a relevância do projeto.
O diretor da unidade penal, Sandro Marcos Bariquelo, enalteceu o impacto da iniciativa:
“Quando o sistema prisional abre espaço para projetos como esse, estamos reconhecendo que a educação é uma das ferramentas mais potentes de transformação. É uma oportunidade de reconstrução pessoal, de olhar para si com dignidade e de reencontrar o sentido da cidadania”, afirmou.
A proposta não apenas desenvolve habilidades manuais e criativas nos apenados, como também fortalece sua autoestima e o senso de pertencimento cultural, oferecendo uma nova perspectiva sobre identidade e respeito às diferenças. O projeto se estende até o mês de dezembro.
A idealizadora do projeto, professora Ivanete Aparecida da Silva Santos, da equipe multidisciplinar do Ceebja Professor João da Luz da Silva Corrêa, destacou que: “este projeto é mais do que uma atividade educativa; é um ato de resistência, reconstrução e esperança. Ver nossos alunos se envolvendo com tanto empenho e afeto é extremamente tocante”, disse.
A coordenadora da equipe multidisciplinar, Aparecida Esmeralda Catabriga Alves, reforçou o papel educativo e social do projeto. “Falar de identidade negra dentro do ambiente prisional é romper silêncios históricos. Enfrentar o racismo estrutural passa por criar espaços de escuta, de valorização e de pertencimento. É isso que estamos fazendo aqui: educando para transformar”, enfatizou.
Gabriela Calderon, presidente do Conselho da Comunidade de Cruzeiro do Oeste reforçou que: “a parceria com a PPPR e com o Ceebja, desenvolvendo este projeto, tem como objetivo promover a reflexão sobre a importância da igualdade e do respeito às diferenças através da criação de bonecos negros, buscamos fortalecer valores de inclusão e diversidade na nossa comunidade”, disse.
“Antes, eu nunca tinha parado para pensar no quanto a cor da pele, a história e a cultura de um povo podiam ser apagadas. Fazendo esses bonecos, a gente aprende sobre respeito, sobre o valor da nossa origem e também sobre como podemos mudar. Eu me senti útil, me senti parte de algo importante. Saber que meu filho vai receber um brinquedo feito por mim, com carinho e consciência, é algo que não tem preço. Isso vai muito além da prisão, é uma chance de recomeçar”, disse uma PPL, aluno participante do projeto.
A iniciativa serve como exemplo de como a articulação entre escola, administração prisional e comunidade pode gerar resultados transformadores, mesmo em contextos de privação de liberdade.