Apenados da Unidade de Progressão de Piraquara concluem trabalhos sobre livro de Dostoiévski 28/04/2023 - 11:26

Na tarde desta quinta-feira (27), no Complexo Penitenciário de Piraquara, oito homens privados de liberdade custodiados na Penitenciária Central do Estado – Unidade de Progressão (PCE-UP) finalizaram sua participação no Projeto Especial de Literatura, que propôs a leitura e diferentes atividades sobre o livro clássico Crime e Castigo, do escritor Fiódor Dostoiévski.

A iniciativa, lançada em fevereiro deste ano, foi desenvolvida através da Divisão de Educação e Capacitação (DEC), levando em consideração a importância da obra como fonte de estudo e reflexão, além da acessibilidade à cultura e educação, que são essenciais para a reabilitação da pessoa privada de liberdade.

Com quase 160 anos, a obra Crime e Castigo, como as demais obras de Dostoiévski, permite diferentes interpretações e inspiraram pensamentos filosóficos, sociológicos e psicológicos, levando o leitor a uma reflexão que pode mudar sua concepção de mundo e do papel do ser humano.

O diretor-geral da Polícia Penal do Paraná (PPPR), Osvaldo Messias Machado, explica que a narrativa da obra escolhida estimula a reflexão sobre a trajetória de vida do condenado.

“O Projeto Especial de Literatura representa um enorme avanço ao sistema prisional paranaense porque esse livro leva o apenado a extrema reflexão sobre sua condição de vida através da narrativa. Ele começou na unidade prisional estadual de Maringá e tem trazido bons resultados em todas as unidades que estamos aplicando, estamos tendo retornos positivos dos próprios apenados”, ressalta.

De acordo com a DEC, a implementação do projeto especial iniciou a partir de uma grande quantidade de doações do exemplar ao sistema paranaense, advindos do Departamento Penitenciário Nacional – cerca de 40 volumes para cada estabelecimento do Paraná.

“Por esse motivo, e devido a alta aceitação do projeto especial pelas unidades e apenados, visamos sim dar continuidade a ele, selecionando outros livros clássicos de grande primor para o desenvolvimento dos apenados”, afirmou o chefe da Divisão de Educação e Capacitação, Juliano dos Santos Prestes.

O diretor da Penitenciária Central do Estado – Unidade de Progressão (PCE-UP), Marcelo Adriano da Cunha, destaca que a principal meta nesse tipo de projeto na unidade não é só trazer benefícios para o desenvolvimento do sistema prisional mas também para a vida privada do apenado, colaborando para seu retorno social e familiar.

“A Unidade de Progressão possui pilares importantes para a ressocialização de reclusos, como a capacitação profissional e educacional, o estudo e o resgate familiar. Portanto, entendemos que ao oportunizar programas de educação, estimulamos as pessoas privadas de liberdade a adquirirem saberes que serão preciosos para seu crescimento, além do uso de seu tempo de reclusão da melhor forma possível”, finaliza.

 

PROJETO ESPECIAL DE LITERATURA – O projeto especial foi aplicado em 18 unidades prisionais em todo o estado desde o início do ano, em que começou na unidade prisional de Maringá. A estimativa é que finalize com aproximadamente 270 apenados participantes em todo o estado. Ele foi direcionado aos leitores inseridos no programa de Remição pela Leitura, aos alunos inseridos na Educação Básica nos CEEBJAs Prisionais e aos apenados que de forma voluntária participam da Leitura Livre. As demais unidades ainda estão em finalização do projeto e também apresentarão os trabalhos finais realizados pelos custodiados nas próximas semanas.


“O erro cometido por Rodion [personagem do livro que vive um dilema por ter cometido um crime] é uma questão de escolha e pode ser cometido por qualquer um. A pessoa tem livre arbítrio para escolher seus caminhos e muitas vezes escolhe o caminho errado, tendo que pagar por isso”, disse um apenado que participou do projeto em Maringá. Segundo ele, a criação de Dostoiévski tem tudo a ver com pessoas que estão nas penitenciárias pagando por escolhas erradas na vida.

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