Mostra teatral encerra Semana Cultural da Casa de Custódia de Maringá 23/09/2025 - 11:48
A Casa de Custódia de Maringá (CCM) encerrou nesta quarta-feira (17) a Semana Cultural com a apresentação da peça “O Imperador e o Mendigo, ou o Cachorro Morto”, de Bertolt Brecht. O espetáculo foi protagonizado por quatro pessoas privadas de liberdade (PPL) e reuniu mais de 60 convidados, entre autoridades, professores, policiais penais e servidores da unidade.
A apresentação marcou o ponto alto de uma semana dedicada à arte, à educação e à cidadania. Ao longo da programação, foram realizadas exibições de filmes e documentários, oficinas artísticas, rodas de leitura, palestras, exposições, mostras e atividades esportivas. Com o tema “Cultura, Arte e Cidadania também se constroem dentro dos muros”, a iniciativa buscou ampliar horizontes e valorizar a reintegração social por meio da expressão cultural.
O palco da encenação foi a entrada principal da unidade, que ganhou novo significado para a ocasião. Parte do público acompanhou a apresentação do piso superior, em uma espécie de mezanino, reforçando a proposta de transformar o ambiente prisional em espaço de cultura.
O projeto é resultado de uma parceria entre a Polícia Penal do Paraná (PPPR), o Conselho da Comunidade de Execuções Penais da Comarca de Maringá (CCEPMA), o Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos (Ceebja) Tomires Moreira de Carvalho e o Setor de Pedagogia da Casa de Custódia de Maringá.
Dirigida pelos professores Adauto da Silva e Marco Antonio Garbellini, a montagem é fruto de seis meses de atividades, que incluíram oficinas de corpo, voz e improvisação. O trabalho resultou em uma criação coletiva marcada por crítica política, humor ácido e reflexões existenciais.
O texto de Brecht, escrito entre 1919 e 1920, contrapõe um imperador vitorioso que retorna da guerra e um mendigo cego à porta da cidade. A narrativa expõe o conflito entre a “verdade do povo” e a “verdade dos poderosos”, desmontando hierarquias sociais e ressaltando que, diante da morte, não há distinções entre opressores e oprimidos.
Figurinos confeccionados com materiais simples, como TNT e sacos plásticos, além de uma trilha sonora criada organicamente durante os ensaios, deram o tom da encenação. O resultado foi um espetáculo que vai além da estética teatral: um convite à reflexão sobre autoritarismo, desigualdade e humanidade.
O coordenador da regional administrativa da Polícia Penal do Paraná em Maringá, Júlio César Vicente Franco, destacou que a iniciativa vai além do aspecto cultural: “Cada projeto como esse fortalece a missão da Polícia Penal de oferecer não apenas segurança, mas também caminhos reais de transformação social”, afirmou.
Para o diretor da Casa de Custódia, Ronaldo Guerra, a mostra representou um avanço significativo no processo de reinserção social: “Hoje contamos com 1.200 custodiados, e conseguimos preparar quatro deles para estar no palco. Esse resultado só foi possível graças ao apoio da equipe pedagógica e da escola, que dedicam tempo além de suas obrigações para mostrar a importância desse trabalho na vida dos privados de liberdade. Quando deixarem a unidade, sairão pessoas melhores. Para o próximo ano, nossa meta é ampliar as ações, com mais cursos, mais teatro e, consequentemente, mais oportunidades de reintegração social”, disse.
Já o professor e diretor da montagem, Adauto da Silva, ressaltou o impacto simbólico da experiência: “É mais do que uma conclusão de oficina. É um exercício de liberdade simbólica, em que cada gesto e cada palavra permitem ressignificar a vida dentro e fora dos muros da prisão”, concluiu.