Peça teatral apresentada por apenados participa do 16º Festival de Teatro de Pinhais 30/10/2023 - 16:52

A peça teatral ‘Crime e Castigo’, baseada na obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski, que possui o mesmo título, é um trabalho realizado com pessoas privadas de liberdade (PPL) no sistema prisional do Paraná, dentro do programa de Remição pela Leitura de 2023 e que vem ganhando novos palcos pelo estado. A equipe de criação conta com os professores e diretores Adauto da Silva e Marco Antônio Garbellini; as professoras que adaptaram o texto, Gislaine Rodrigues e Vânia Rossi; e duas pessoas privadas de liberdade como os atores principais da peça.

O projeto teve início no mês de maio, com a montagem da produção e as primeiras apresentações na Casa de Custódia de Maringá (CCM). Depois foi a vez da Colônia Penal Industrial de Maringá (CPIM) receber a apresentação. Em junho, houve uma curta temporada no Teatro Barracão, também em Maringá, quando o trabalho foi convidado para participar da Festa Literária Internacional de Maringá (FLIM), no palco Circo Literário, a convite do secretário de cultura de Maringá, Victor Simião. Já neste mês de outubro, o prólogo foi até a cidade de Campo Mourão, na região Centro-Oeste do Estado, onde lotou o Teatro Municipal na quinta-feira (26) e recebeu aplausos entusiasmados. Na sequência, o projeto recebeu convite para participar da mostra profissional no 20º Festival de Teatro de Campo Mourão (FETACAM), realizado entre os dias 18 e 28 de outubro. Todo este retrospecto recheado de aplausos e elogios chancelou o convite para que a peça participasse do 16º Festival de Teatro de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, realizado neste domingo (29), quando concorreu nas categorias de Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Interprete e Melhor Técnica (som, luz e cenografia).

Para o diretor adjunto da Polícia Penal do Paraná (PPPR), Maurício Ferracini, a cultura é um dos fatores mais importantes para o tratamento penal, proporcionando mudança pessoal e trilhando o caminho para a reinserção social. “A Polícia Penal trabalha muito seriamente com as questões de seguranças prisional, mas também com os aspectos do tratamento penal humanizado. Esta é a atual formação do policial penal para atuar nestas duas frentes bem definidas. A cultura, a educação e o trabalho são peças fundamentais para que estes indivíduos que estão segregados em nosso sistema prisional estejam preparados, após cumprirem suas reprimendas, para retornar ao meio social”, destaca.

O sucesso do projeto permite que todas as outras unidades prisionais do Estado possam desenvolver atividades iguais ou correlatas, conforme explica Ferracini. “A peça ‘Crime e Castigo’ é uma atividade muito bem trabalhada, na qual temos a presença do público carcerário como atores principais participando de todo este momento cultural, que já se expandiu para outras regionais administrativas da Polícia Penal. Este convite para o Festival de Teatro de Pinhais é uma prova de que o trabalho é sério e deve ser visto como um enorme incentivo a cultura, mostrando também que a atenção ao tratamento penal humanizado transforma ambientes e pessoas, apresentando resultados tão importantes como este que estamos vendo”, enfatiza.

“O projeto tem o objetivo de incentivar a leitura às PPLs e o fortalecimento do programa de remição pela leitura e já atendeu cerca de 700 apenados no Estado. O trabalho de leitura da obra ‘Crime e Castigo’ resultou em muitas produções textuais com diversos gêneros, como roda de leitura, poesias, cordéis, desenhos e teatros. A remição pela leitura é uma prática que contribui para a ressocialização, a educação e cultura dos detentos, um grande potencial para impactar positivamente o sistema prisional e a sociedade como um todo”, explica o chefe da Divisão de Educação e Capacitação da PPPR, Juliano Prestes.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cada obra lida corresponde à remição de quatro dias de pena, limitando-se, no prazo de 12 meses, a até 12 obras efetivamente lidas e avaliadas, com a possibilidade de remir até 48 dias por ano.

Um dos PPLs que atua na peça representa o personagem Raskólnikov. Ele situa a obra na história, contextualiza a relação de Dostoiévski com o sistema prisional e o quanto a trama mexe com quem está cumprindo pena em uma penitenciária. Na sequência é a vez do outro PPL prender a atenção do público com um monólogo. Eles apresentam ao público uma montagem inédita de ‘Crime e Castigo’, um clássico de Fiódor Dostoiévski e ao final é realizada uma roda de bate-papo sobre a obra e para esclarecimentos sobre o processo de montagem da peça. O primeiro apenado atualmente está em regime semiaberto no CPIM e o segundo esteve cumprindo pena na CCM até junho de 2023, quando passou para o monitoramento eletrônico. Ambos descobriram a arte de atuar dentro da CCM sob incentivo dos professores Adauto da Silva e Marco Antônio Garbellini

De acordo com a equipe criadora do projeto, boa parte das pessoas que vão assistir à peça não sabem muito bem como se deu o processo e quem são as pessoas que estão realizando o trabalho. Geralmente quando ocorre um debate, as pessoas ficam surpresas por saberem que esse projeto nasceu dentro do sistema prisional e que os atores que realizam a peça nunca haviam feito teatro. A qualidade artística, tanto da dramaturgia, quanto da direção do espetáculo, como a execução realizada pelos atores, é outro elemento de encantamento apontado por parte da audiência, durante os debates. Ambos os custodiados se dizem surpresos pela maneira como o projeto vem sendo recebido pela classe teatral e pelo público em geral.

“A Polícia Penal do Paraná tem o objetivo de reinserir o indivíduo na sociedade. A pena não é mais somente para punir, ela tem que, de alguma forma, transformar o indivíduo, para que ele mude aquela ação que cometeu”, explica o coordenador regional da PPPR em Maringá, Júlio César Vicente Franco.

GALERIA DE IMAGENS

  • Foto: Polícia Penal do Paraná
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