O Complexo Penitenciário de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, sediou entre junho e dezembro de 2025 a primeira edição do projeto “Narrando Nossas Histórias”, uma iniciativa inédita no sistema penitenciário brasileiro voltada ao tratamento do estresse pós-traumático com base na Terapia de Exposição Narrativa (NET, na sigla em inglês). Realizado no Centro de Integração Social (CIS), o projeto colocou a saúde mental no centro do debate sobre justiça, direitos humanos e políticas de reintegração social.

Idealizado pelo Instituto NET, o programa foi desenvolvido em parceria com o Instituto Aurora para Educação em Direitos Humanos, com colaboração da Fiocruz e apoio financeiro da Vara de Execução Penal do Paraná. A proposta aposta na escuta qualificada, na reconstrução da narrativa pessoal e na possibilidade de transformação duradoura das participantes.

Ao longo de seis meses, 45 mulheres privadas de liberdade participaram das atividades terapêuticas, que combinaram atendimentos individuais e sessões em grupo. A metodologia foi adaptada especialmente para o contexto prisional, permitindo que situações traumáticas vividas antes e durante o encarceramento pudessem ser reconhecidas, compreendidas e tratadas.

O encerramento do projeto ocorreu na última sexta-feira (5), em evento realizado no CIS. Um dos destaques foi a formação de três mulheres como mediadoras comunitárias, preparadas para atuar na unidade na prevenção e contenção de conflitos, reforçando práticas de cultura de paz e convivência harmônica.

Para a juíza da Vara de Execuções Penais da Comarca de Curitiba, Dra. Laryssa Angélica Copack Muniz, a iniciativa representa um marco no tratamento penal no Estado. “O projeto inaugura uma nova fase na PPPR, ao reconhecer que situações traumáticas, vividas por pessoas privadas de liberdade, devem ser reconhecidas como fatores de instabilidade emocional e violência e, portanto, merecem atenção e tratamento. É humanizar a vida dentro do ambiente prisional, dando ferramentas para que a pessoa privada de liberdade possa se restabelecer tanto no período que se encontra sob custódia do Estado, quanto após terminado o período de encarceramento, no retorno à sociedade”, destacou.

Desde sua concepção, o “Narrando Nossas Histórias” foi construído em diálogo com a equipe técnica do CIS, buscando a melhor abordagem para a realidade das mulheres atendidas no sistema penitenciário da Região Metropolitana de Curitiba. O foco central é a promoção da saúde mental e o fortalecimento emocional das participantes, dentro e além dos muros do cárcere.

“Para nós, do Centro de Integração Social, o projeto Narrando Nossas Histórias representou um passo significativo no cuidado em saúde mental das mulheres atendidas na unidade. Ao longo desses meses, acompanhamos a aplicação da metodologia da Terapia de Exposição Narrativa adaptando o trabalho à realidade do sistema prisional. A formação das mediadoras comunitárias e o envolvimento das participantes mostram como iniciativas estruturadas podem contribuir para a compreensão de experiências traumáticas e para a construção de um ambiente e sociedade cada vez melhores”, declarou a diretora do CIS, Alessandra Prado.