Projeto de leitura em Maringá leva a clássicos da literatura mundial para custodiados 16/03/2023 - 10:20

Com o objetivo estimular o gosto pela literatura e ampliar a capacidade de leitura crítica dos custodiados, a Polícia Penal do Paraná, através da Divisão de Educação e Capacitação, lançou, nesta semana, o Projeto Especial de Leitura na Penitenciária  Estadual de Maringá (PEM). A iniciativa prevê a leitura, o debate em grupo e a produção de resenhas de obras clássicas da literatura mundial. Para a primeira rodada, foi escolhido o livro Crime e Castigo, do autor russo Fiódor Dostoiévski.

A iniciativa faz parte do programa Remição pela Leitura, que existe há 10 anos nas penitenciárias do Paraná e já ajudou a reduzir a pena de cerca de 35 mil pessoas privadas de liberdade. O Projeto lançado nesta semana também tem como benefício a redução de pena aos participantes. A ideia é aplicá-lo futuramente em todos os estabelecimentos penais do Paraná.

No programa de Remição a pessoa privada de liberdade (PPL) escolhe um livro e deve entregar um texto sobre ele ao fim da leitura. Já no Projeto Especial, o livro é selecionado previamente pelo setor educacional da penitenciária. Os interessados têm um tempo definido para ler e produzir uma resenha sobre a obra, demonstrando que têm compreensão sobre o conteúdo. Além disso, devem participar de uma roda de conversa ou de apresentações culturais sobre o tema.

"Uma das diferenças é que este é um programa com maior profundidade, que vai exigir mais do apenado. São obras clássicas que demandam reflexão para serem compreendidas, como é o caso do livro Crime e Castigo, cujo texto tem múltiplas camadas implícitas, de modo que cada pessoa poderá compreendê-la de uma maneira, dependendo de sua vivência e conhecimento. Normalmente, o leitor terá que ler duas, três ou mais vezes certos trechos ou talvez o livro inteiro”, disse o diretor geral da Polícia Penal, Osvaldo Messias Machado, que esteve presente no evento de lançamento do Projeto Especial de Leitura na PEM.

A ideia da implantação do Projeto é proporcionar a ressocialização dos apenados. “A leitura é um ingrediente importante no processo de ressocialização, somando-se ao trabalho e ao estudo regular. É importante que apliquemos iniciativas como esta para reduzir a reincidência criminal”, disse o diretor do Complexo Penitenciário de Maringá, Júlio César Franco.

Além do evento de lançamento, a PEM teve a primeira roda de debates sobre a obra selecionada com 26 PPLs participando. Eles haviam iniciado a leitura de Crime e Castigo no mês de fevereiro e a conversa contou com a participação de professores e diretores da instituição.

No Complexo Penitenciário de Maringá, a leitura do livro também está sendo feita por 13 PPLs da Casa de Custódia (CCM) e 33 da Colônia Penal Industrial (CPIM). Eles devem finalizar todas as atividades relacionadas a ele em maio.

LENDO SOBRE A PRÓPRIA VIDA - No dia do lançamento e da primeira roda de debate na PEM, um custodiado relatou que não tinha gosto pelos livros antes de ser condenado. Com uma longa pena a cumprir, passou a participar dos programas de estudos oferecidos pela Polícia Penal e Centros de Educação para Jovens e Adultos (Ceebja). 

Dessa forma, ingressou no programa Remição pela Leitura e, quando percebeu, já tinha se tornado um grande leitor, com entendimento sobre gêneros, estilos e movimentos estéticos da literatura brasileira e universal. Antes mesmo do lançamento do novo projeto, ele havia lido o livro Crime e Castigo. “Achei que seria muito difícil, mas em um mês consegui ler, tirar as dúvidas e elaborar meu texto”, contou o custodiado.

Segundo ele, a obra de Dostoiévski tem muito a ver com sua própria vida. “Quando terminei a leitura, senti que cresci muito, pois o livro me levou à reflexão sobre minha história e a história de tantos que hoje estão no cárcere”, disse.