Entre os dias 11 e 15 deste mês, as penitenciárias Industrial e Estadual de Guarapuava, além da Cadeia Pública de Guarapuava, promoveram a Semana Cultural, uma iniciativa coordenada pelo Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja) Nova Visão, em parceria com diversas instituições e com o apoio da Polícia Penal do Paraná (PPPR), que viabiliza a realização dessas ações educativas, fortalecendo o processo de reintegração social.

O evento teve início na segunda-feira (11) com apresentações artísticas simultâneas nas três unidades. Na Penitenciária Estadual de Guarapuava (PEG), pessoas privadas de liberdade protagonizaram o Projeto Voz e Violão, apresentado ao público interno. Já na Penitenciária Industrial de Guarapuava (PIG), a abertura contou com a apresentação especial da Orquestra CCB. Na Cadeia Pública de Guarapuava, a abertura foi marcada pela encenação da peça “ComPosições”, apresentada pelo Grupo de Teatro Luz.

O diretor da PIG, Renato Silvestre, explica que a Semana Cultural é realizada anualmente, sempre no mês de agosto, em presídios do estado, com o objetivo de levar cultura, educação e atividades diferenciadas ao cotidiano dos internos, contribuindo para o processo de reinserção social. “A Penitenciária Industrial é uma unidade voltada para atender, de forma integral, às diretrizes da Lei de Execução Penal, atuando em três frentes: trabalho, educação e fortalecimento dos vínculos familiares. Com relação à educação, recebemos muitos sentenciados que chegam analfabetos e que, dependendo do tempo de permanência, têm a oportunidade de concluir o ensino fundamental, médio e até mesmo o ensino superior. Isso é extremamente importante tanto para o indivíduo quanto para a sociedade, pois quando ele evolui, a tendência é que se afaste do crime. Temos, também, iniciativas como os projetos de remição de pena pela leitura, que são exemplos concretos dessa transformação”, destacou.

A remição de pena pela leitura é um programa que permite ao sentenciado reduzir parte de sua pena a cada obra lida e resenhada, unindo o incentivo à educação ao processo de reintegração social.

O diretor da PIG destacou ainda a importância das parcerias institucionais. “O cumprimento da pena é uma função do estado, mas quando a sociedade e as instituições se envolvem, o resultado é muito melhor. É uma parceria que traz reflexos positivos tanto para o sentenciado quanto para toda a comunidade”, enfatizou Silvestre.

A programação da semana foi ampla e variada, incluindo palestras sobre saúde mental, história do futebol e o projeto “Filosofando na Mitologia”. Também foram realizadas atividades como mostra de ciências, com áreas como zoologia, anatomia, astronomia, microscopia e fungos, oficina sobre aracnídeos (aranhas e escorpiões), oficina de astronomia, apresentação teatral do grupo Teatro Luz, e uma animada noite de jogos. Também foi realizada uma apresentação musical com o cantor Thiago Oliveira, do Projeto Deus é Mais, da cidade de Maringá.

Para a vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática (Ppgen), professora Ana Lúcia Crisostimo, que coordena o projeto Ciência & Movimento, participar da Semana Cultural é uma oportunidade valiosa de troca. “Os alunos vivenciam a prática docente e pedagógica além do espaço mais formal que é sala de aula, e acabam adquirindo valores importantes, quebrando preconceitos. E para quem está encarcerado, também passa a ver que há pessoas na sociedade que se preocupam, que se engajam em atividades voluntárias que se somam”, apontou.

A programação contempla ainda momentos de orientação jurídica e social, com palestras ministradas por advogados sobre faltas disciplinares e encontros com psicóloga, policial penal e assistente social do Escritório Social de Guarapuava, que apresentaram o trabalho desenvolvido neste setor.

“As semanas culturais têm se consolidado como espaços fundamentais de expressão, aprendizado e humanização nas unidades penais. Nelas, a cultura se manifesta em sua diversidade por meio de exposições artísticas, encenações teatrais, ciclos de palestras inspiradoras e atividades que provocam o pensamento crítico e o autoconhecimento. Cada edição desta iniciativa é uma prova de que a arte educa, liberta e ressignifica vidas”, disse a pedagoga, Maxcimira Carlota Zolinger.

O diretor do Ceebja Nova Visão, Professor Eliel Earle Linhares, destacou que: “a Semana Cultural é uma iniciativa voltada a pessoas privadas de liberdade que já participam de programas educacionais e que a ação reforça o papel da educação como agente de transformação. Ao oferecer experiências artísticas, intelectuais e palestras, busca-se o resgate da cidadania, autoestima e dignidade dos participantes, reconhecendo sua humanidade e potencial de recomeço”, concluiu.